Eu não sou bom com as palavras. Eu não sou nada bom com elas. Eu uso e abuso delas pra sair das minhas encrencas, troco uma pela outra sem fazer cerimônia, tudo porque quero a que fica mais bonita no papel. E é meio incrível como elas continuam me seguindo, ecoando na minha cabeça.

Nem sempre foi assim.

No começo foi uma baita briga, eu as queria do meu lado e elas não tinham o menor interesse em ficar. Me pregavam cada peça: gostar se fingia de amar pra me ver escrever e me fazer chorar.

E foi assim até descobrir que o que elas queriam era atenção. Fui atrás delas, me meti em tudo que era livro, dei espaço pra todas nos meus textos. E elas cresceram comigo.

Aí um dia começaram a soar estranhas, umas começaram a falar que eu não queria mais saber delas, outras que eu não saia do pé. É que eu estava empacado: a coitada da angústia vivia correndo atrás das amigas por mim, tudo porque meu coração não conseguia ter paz.

Nesse cabo de guerra eu decidi dar um tempo pras minhas palavras: só que aí meu coração gritava usando aquele código morse e eu não entendia nada – até hoje eu acho que ele só estava pedindo socorro.

Foi assim até eu descobrir, na porrada, que era melhor não trocar minhas amizades pelos sentimentos. Eu fui conversando com cada uma das minhas velhas companheiras – aquele olhar de cachorro pedinte – e convenci elas a voltarem. Só que não dava pra esperar que fosse ser a mesma coisa: elas fizeram um pacto de sangue com meu coração, de que não iam sossegar enquanto eu não resolvesse os problemas dele.

E vou te falar: sabe aquele amigo que não te deixa acordar mais tarde porque você tem que procurar emprego? Elas andam bem mais ferrenhas. Tem noite que elas mal me deixam dormir. Mas o mais complicado é que estão meio cegas, não veem que o coração não entende – só sente – e toda vez que se entrega ao medo ele se distancia de chegar aonde quer. Pois é, virou uma bagunça, eu querendo falar as coisas e as palavras entalando na garganta, puxadas pelo grito covarde do meu coração.

A minha história com as palavras

Mas não vou reclamar. Nos últimos meses eu tenho conseguido alguma evolução. Joguei o plano pela janela – infelizmente a gente tem que se desfazer de algumas amizades e andar pra frente – tive uma conversa com sorriso, olhar e carinho ­­– expliquei que o coração não ia chegar em lugar nenhum sem elas – e chamei a lembrança pra uma conversa firme – papo de foco, essa história de se perder nas decepções não dá mais, se é pra aparecer que seja pra falar bem de alguém.

E eu vou te contar, a briga anda boa, agora mesmo estou chamando todas tentando achar uma delas que fica se fingindo de morta, tudo porque eu queria dizer uma coisa bem simples… Espera só um pouco, ela já sai, estou puxando pelo rabo…

 

Eu estou com tanta saudade.

 

*texto escrito em 2017

Escrito por : Fernando Kopaz

Fernando Kopaz tem a escrita no sangue desde muito pequeno. Com uma paixão por reflexões e questionamentos, traz sempre muitas interrogações em seus textos. Tem dois livros publicados: Folhas, folhas e gotas de sol e Mortas Palavras Vivas.

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